South by Southstories #2

20/04/2017
Posted in SXSW 2017
20/04/2017 Marcos Arthur

South by Southstories #2

Eram aproximadamente duas horas da manhã quando, ao terminar mais um dia de sessões e trabalhos no SXSW – e uma (literal) lavação de roupas (ficar fora por longos períodos requer esse tipo de providência) – eu e a minha cara-metade Marina nos dirigimos até o quarto em que estávamos no Drifter Jack’s para um merecido descanso. O dia seguinte começaria cedo e estávamos ávidos por uma boa noite de sono.

Comecei a escalada até a cama de cima do beliche em que estava alojado – logo acima do Felipe – quando tive uma desagradável surpresa: alguém estava ocupando o meu lugar. Tratava-se de um desavisado que, por alguma razão, havia ido parar no nosso quarto, onde dormia profundamente, emitindo roncos quase ensurdecedores. Um tanto atônito e quase irritado, fui imediatamente até o gerente de plantão relatar a ocorrência: “Tem um cara dormindo na minha cama” – falei, breve.

O funcionário foi até o quarto, onde foi testemunha ocular (e auditiva) do fato e, sutilmente, cutucou o sujeito, tentando explicar, quase sussurrando, que ele estava no lugar errado e precisava se retirar. Naquele momento, a despeito do ronco, todos dormiam, exaustos. Esse cenário se inverteu quando, diante da ineficácia da estratégia inicial, o gerente foi obrigado a fazer investidas mais contundentes, já que ele precisou sacudir o caboclo e elevar o tom de voz até que este, enfim, acordasse, totalmente alheio ao que estava acontecendo.

Nosso cafofo no Drifter Jack’s Hostel

De trágica, a situação passou a cômica. O indivíduo, aparentemente bêbado (de álcool ou simplesmente de sono, não dá pra dizer), não conseguia entender porque estava sendo despejado daquela maneira. Todos no quarto acabaram acordando, surpresos, cada um pensando no cenário mais estapafúrdio. Tentando quase inutilmente conter o riso, eu e Marina corremos até a copa, onde relatamos a história a um outro hóspede, que nos contou ter vivido a mesma situação no ano anterior.

Mais tarde, viemos a saber que o Felipe, ao acordar vendo o gerente naquele contexto, achou que eu estava sendo castigado por ter feito alguma coisa além da moral e dos bons costumes (lembremos que ele estava na cama de baixo do mesmo beliche, isto é, impossibilitado de ver o que acontecia na parte de cima). O Fabrício, amigo e colega de quarto, acordou querendo tocar o desavisado aos safanões, pois achou que o riso contido da Marina era choro e que havíamos sofrido algum tipo de agressão. Até hoje estamos rindo desse acontecimento inusitado.

Com a situação já controlada, o gerente nos chamou de volta para o quarto e, quando nos cruzamos no corredor, ele olhou para mim e disse: “Agora, você tem uma história pra contar”.

De fato. Histórias são as cores da vida e, quanto mais histórias uma vida tem, mais interessante ela é. Saber contá-las, então, a torna ainda mais interessante, e é por isso que os bons contadores de “causos” estão sempre no centro das atenções em qualquer ocasião. E é pelo mesmo motivo que a stand-up comedy ganhou tanto espaço nos últimos anos.

Contar “causos” e fazer piadas com a própria história nada mais são do que diferentes maneiras de usar storytelling. E é com isso que eu retomo o tema do post anterior, só que agora falando um pouco do que vi no SXSW Interactive.

O Centro de Convenções de Austin, onde a mágica acontece

Vou começar pelo Convergence Keynote (Keynote de Convergência) do fotógrafo e aventureiro Cory Richards, da National Geographic, que usa suas imagens (fotos e vídeos) para contar histórias de suas viagens pelo mundo. Recentemente, em expedição para o Everest, Richards encantou seus seguidores com o relato da jornada pelo Snapchat. Ironicamente, Cory foi impedido de registrar o momento final pelo aplicativo, já que a bateria do seu celular havia acabado. “Também tenho esse tipo de problema”, brinca, mostrando a foto que tirou com sua câmera – “Foi tudo o que consegui fazer”.

Durante o keynote, Richards contou sua história de vida, entre aventuras e desventuras (ele tem um passado difícil), toda registrada em imagens belíssimas. Quem quiser conferir pode ver a sessão na íntegra abaixo.

Famosa pelo seu jeito de contar histórias e pelas imagens de alto impacto, a National Geographic teve outras participações, como a do também fotógrafo Aaron Huey que, de maneira similar à de Richards, conta suas viagens pelo mundo por meio de fotografias. Ele é um dos mais de 100 fotógrafos que têm acesso à conta da NatGeo, que por sua vez publica em torno de 12 imagens por dia, além de vídeos curtos (Instagram Stories), lives, etc. Todo esse material recebe um tratamento carinhoso dos fotógrafos, que também cuidam das histórias por trás de cada imagem ou vídeo. “Legendas funcionam incrivelmente bem”, destaca Huey durante o painel Letting Go and The New Way to Tell Visual Stories (em tradução livre, algo como “Desencanando” e A Nova Forma de Contar Histórias Visuais).

Hoje, o Instagram da National Geographic é um dos mais acessados do mundo, com aproximadamente 92 milhões de seguidores (somadas todas as contas). O perfil é tão “mítico” que mesmo um quadrado preto (provavelmente, uma foto malsucedida publicada por engano) chegou a receber mais de 20 mil curtidas.

Potencial de impacto das redes sociais da NatGeo

O storytelling também esteve presente no inusitado workshop Crave Build-A-Vibrator (Construindo um Vibrador da Crave), do qual eu e o Felipe participamos. Sim, você leu certo: participamos de um workshop para construir um vibrador! Quem viu nossos lives ficou por dentro. Uma das coisas mais interessantes foi a maneira como os facilitadores cativaram o público, contando a história do vibrador desde os primórdios até chegar nos brinquedos de luxo que a Crave produz hoje. Aliás, você sabia que o primeiro vibrador foi construído para acabar com a histeria, uma suposta doença causada por perturbações no útero?

Materiais do workshop Crave Build-A-Vibrator

Também tivemos um pouco de storytelling no evento Using AI & Machine Learning to Extend the Disney Magic (Usando IA [Inteligência Artificial] & Aprendizagem de Máquinas para Estender a Magia da Disney), no qual um dos principais pontos destacados foi a importância da história na construção da inteligência artificial de robôs e brinquedos do futuro que vem sendo desenvolvida pela Disney por meio de uma integração saudável entre programadores e criativos. Ora, e quem foi que disse que esses dois mundos não poderiam se unir de verdade para criar um universo ainda melhor? Não é à toa que a Disney está no topo da cadeia quando se fala em histórias infantis… que cativam, inclusive, os adultos.

E o assunto não se esgota. De uma forma ou de outra, tendo o storytelling como tema central ou como ferramenta, várias sessões estiveram conectadas a ele. A discussão The Live Impact: Facebook, Periscope & Journalism (O Impacto da Transmissão ao Vivo: Facebook, Periscope & Jornalismo), por exemplo, falou, entre outras coisas, das responsabilidades dos jornalistas em relação ao uso dos lives, mas também ressaltou a importância de como contar a história. O painel Being Human: How Personal Stories Change the World (Sendo Humanos: Como Histórias Pessoais Mudam o Mundo), que contou inclusive com a participação do escritor de discursos da Casa Branca pelo período de 2011 a 2016, David Litt, manteve o foco em como uma boa história pode mudar vidas e transformar o planeta (para quem não se lembra, o ex-presidente Obama gostava de colocar histórias em seus discursos). No evento Engineered Collisions Between Games and News (Colisões Projetadas entre Jogos e Notícias), a proposta era discutir uso de jogos para fazer jornalismo de maneira criativa usando storytelling para engajar o público.

No Social Good Hub (algo como Central do Bem-estar Social, em tradução livre), espaço voltado para apresentações, experiências e relatos de transformação social, cada estande, cada expositor tinha uma história para contar ou incluir no seu pitch… Mas para não me estender mais por aqui – nem esgotar o assunto (até parece que é possível) – vou guardar algumas histórias para depois. Espero que você volte com bastante curiosidade.

Te vejo em breve!

Ah, e se você gostou muito do que andamos falando sobre storytelling, teremos um imenso prazer em fazer uma apresentação para a sua empresa e, quem sabe, elaborar um projeto de comunicação ou aprendizagem com base nessa técnica? É só entrar em contato!

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