Sobre aprendizagem contextualizada e a troca de experiências

03/07/2017
Posted in Trabalho
03/07/2017 Felipe Menhem

Sobre aprendizagem contextualizada e a troca de experiências

Eu gosto quando os encontros mais casuais resultam em convites inesperados. De uma cerveja no happy hour, saiu um convite para acompanhar uma das reuniões do Fórum Conspira 6 Irmãs, o encontro de diretores de escolas das cidades mineiras de Baldim, Capim Branco, Funilândia, Jequitibá, Matozinhos e Prudente de Morais.

Esses encontros são mensais e são uma boa oportunidade para os diretores compartilharem suas experiências e desafios na gestão escolar. Em cada um desses encontros, uma escola mostra o que tem desenvolvido. O de junho aconteceu na segunda passada, 28/06, na Fazenda Alegria, que fica em Funilândia. Não por acaso, vale ressaltar, uma vez que a Escola Lafayette Neiva funciona dentro da fazenda.

Poder ver as práticas da escola e o papel no desenvolvimento dos empregados da Fazenda Alegria me permitiu observações interessantes e que eu gostaria de compartilhar aqui.

A Lafayette Neiva começou suas atividades em 2001, com oito alunos. Hoje são 34, com diferentes graus de escolarização. As aulas acontecem duas vezes por semana, durante o horário de trabalho e a carga horária é de 120 horas/ano. O foco é em Leitura, Escrita e Cálculo e com a metodologia da Aprendizagem Contextualizada. Ou seja, aquilo que os alunos veem na sala de aula é rapidamente colocado em prática no dia a dia. E, convenhamos, há muito que se colocar em prática nas tarefas de uma fazenda.

Os alunos são absolutamente fascinados com a escola e os momentos de aprendizado. É um cenário diferente do que vemos em diversos casos da escola e na aprendizagem corporativa. O que faz essa adesão ser maior? O fato de ser no horário de trabalho? O empoderamento que a educação de jovens e adultos traz?

Pode ser tudo isso junto. Uma das alunas, que terminou o ensino médio, deu um depoimento e disse que jamais pensava em continuar a estudar, pela falta de tempo e porque sempre tinha coisa para resolver em casa, “especialmente quando se é mulher, né?” Outro aluno disse que quando começou a trabalhar na fazenda, só pensava em providenciar dinheiro para a casa. Poder estudar também deu a chance dele se envolver na vida escolar da filha e levar conteúdo pra dentro de casa.

Outra forma de encurtar as distâncias entre a casa e a sala de aula foi a adoção do EAD como ferramenta pedagógica. Os alunos usam a Khan Academy para aprenderem matemática. Além dos conhecidos benefícios do ensino a distância, usar a Khan Academy possibilitou o primeiro contato de alguns dos alunos com o computador. As famílias também ficaram interessadas na plataforma e na possibilidade de poder aprender de qualquer lugar.

Ou seja, é um outro exemplo da relação ganha-ganha tão bem explicada pelo Caco nesse post e que mora no clichê de que investir na educação do seu time traz resultados para a empresa, formação e auto-estima para os funcionários.

A aprendizagem contextualizada cumpre um papel importante também. É mais fácil aprender e fixar conhecimentos sobre leitura e escrita quando se lê e redige documentos, por exemplo. Ou, melhor, falar de cálculo e medir uma área, seja de uma horta ou de um jardim. Além disso, dentro dos processos de qualidade, a fazenda faz uma espécie de avaliação 360º, onde cada time avalia o seu trabalho e o trabalho dos outros. O que não é bem avaliado vira um plano de ação com melhorias.

No final das contas, foi uma manhã super interessante e que valeu pela troca de experiências. Espero que os diretores das escolas tenham se inspirado e percebido que não é preciso um grande investimento para conseguir introduzir novas práticas e aumentar o engajamento na escola e na sala de aula. Essa reunião ainda rende assunto para mais alguns posts. Deixei dois assuntos propositalmente de fora: a mediação em sala de aula e os novos papéis na escola.

Quando o conhecimento torna-se mais acessível, o papel do professor e da escola mudam, deixando de ser o espaço para o aprendizado em si, mas sim para a troca de experiências, a mentoria e, claro, a socialização. As escolas e organizações que criarem ambientes mais diversos e interessantes sairão na frente, tanto na formação dos alunos e indivíduos, quanto na conquista de resultados cada vez melhores para todos.

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