Quando estou produzindo um conteúdo, uma das coisas que mais me preocupa é a forma como as pessoas irão se conectar com ele. Fico me perguntando “Está muito complicado?”, “As pessoas vão entender?”, “Faz parte da realidade do público?”. Naturalmente, chego lá, mas o processo de “conexão” sempre fica me rodeando.
E nesse sentido, fico sempre impressionado ao ver um mesmo conteúdo sendo entregue e explicado de diferentes formas para diferentes públicos. É quando a didática funciona. É o caso desse vídeo do músico Jacob Collier para a Wired. Ele explica o conceito de harmonia em cinco níveis de dificuldade, começando com uma criança de sete anos e termina em uma conversa com Herbie Hancock.
Antes de assistir ao vídeo, você sabe o que é harmonia? Eu perguntei pro Diego Mancini como ele define harmonia para não-músicos. Diego é um dos melhores músicos que conheço e que tenho a sorte de ser um grande amigo. Para ele, “harmonia e melodia andam juntos. Melodia é a parte que você consegue cantar. Harmonia é a parte que os instrumentos tocam”. Para ficar ainda mais palatável – sem trocadilhos – o Diego fez uma excelente analogia. “Melodia é a calda e o granulado. Harmonia é o sorvete. Você pode comer granulado com calda, que é até gostoso, mas não é a base da coisa. É o sorvete.”
Eu gosto muito de sorvete, então gostei dessa analogia. E ela faz sentido.
Agora sim, pode dar play.
Uma pena que este vídeo não tenha legendas. Jacob escolhe as palavras certas para cada público. Desde “eu posso decidir como esse melodia deve ser sentida” para Bodhi, de sete anos de idade, até uma discussão super profunda sobre variações harmônicas com Herbie Hancock, 77 anos. É a didática perfeita. Todo mundo entende, independente do nível de conhecimento sobre o assunto. No entanto, uma das melhores explicações é a que ele dá para Camryn Hutto, de 14 anos.
“Harmonia é colocar emoção na melodia, de modo que você saia de casa e, ao voltar, tenha aprendido alguma coisa durante o caminho”.
“Como ‘harmonizador’, meu trabalho é achar uma narrativa e fazer com que ela tenha sentido”.
Eu gostei muito disso também. Porque, no nosso trabalho, a didática faz o trabalho da harmonia quando estamos escrevendo qualquer conteúdo de aprendizagem. O conteúdo pode ser a calda do sorvete, ou seja, você pode aprender sem uma boa didática. Mas com ela, tudo faz mais sentido.
Mais claro, o nosso trabalho é achar uma narrativa para aquele conteúdo, fazer com que ele tenha sentido e que ajude o público a aprender alguma coisa durante o caminho.
Vocês não acham?