Aprendizado de bandeja

02/05/2018
Posted in Do cotidiano
02/05/2018 Felipe Menhem

Aprendizado de bandeja

Prólogo

Eu tenho vivido um bloqueio criativo. Um grande bloqueio criativo. Minto, um imenso bloqueio criativo. Tenho algumas boas ideias, mas não consigo colocá-las pra frente.

A imensa carga de trabalho atual é uma das grandes culpadas. Não que eu esteja reclamando de trabalho, inclusive podem entrar em contato pra gente conversar sobre projetos super legais de educação, mas é natural que eles drenem parte da energia. A outra coisa é tentar coordenar isso tudo com a reforma em casa. No fim do dia, estou sem tempo, paciência e energia para ler, pesquisar, produzir vídeos, enfim, fazer qualquer coisa criativa relacionada ao trabalho ou não.

Na noite de sexta, compartilhei essa angústia do bloqueio criativo no linkedin e as formas de superá-lo e tive algumas boas respostas: viajar para um lugar e observar, fazer uma atividade diferente do dia a dia, correr um pouco.

No sábado, eu e Carol, minha esposa, viajamos para Cunha, no interior de São Paulo. Meu tio tem um sítio lá e é sempre uma boa oportunidade para uma descompressão. É um lugar lindo, longe da cidade e sem acesso à internet. Levamos as cachorras, dormimos, comemos e corremos.

Aproveitei para fazer a primeira incursão em algo novo: a marcenaria. Sempre gostei da ideia de trabalhar com madeira e a oportunidade de trabalhar na WorldSkills aumentou isso de maneira absurda. O fato é que meu tio tem uma pequena oficina no sítio e eu aproveitei para colocar a mão na massa. Com a sua supervisão e tutoria, eu fiz uma bandeja de pinho. Demorei umas dez horas, me cortei algumas vezes, mas foi uma das experiências mais legais de todos os tempos. E eu queria compartilhar alguns ensinamentos com vocês.

O primeiro deles: Destravou parte do bloqueio criativo

Fiquei completamente focado durante o processo de construção da bandeja. A medida que o projeto avançava, comecei a pensar nas histórias que poderia contar, nos processos que estava passando. Era uma forma de abrir a cabeça e deixar ideias irem e virem.

Planejamento é importante

 

Tinha o desenho e o processo na minha cabeça, “culpa” das centenas de vídeos que já vi sobre o assunto. Mais do que isso, organizar os passos e procedimentos do projeto e da área de trabalho ajudam demais. Não adianta você pensar na alça da bandeja se você não sabe como vai encaixar o fundo. Isso leva ao tópico seguinte e também nos ensina uma velha lição: o planejamento pode ser um pouco demorado, mas isso será compensado no longo prazo.

A tutoria também é super válida

É claro que é possível aprender sozinho e de maneira empírica. Os vídeos de marcenaria que vi na internet são a prova disso. Conceitualmente eu sabia o que fazer. Porém, a tutoria de um profissional experiente – meu tio, no caso – fez com que a curva de aprendizagem fosse mais rápida. Comecei nos cortes mais simples, como o corte transversal, e fui passando para as coisas mais complexas.

Aprendi várias coisas que aqueles vídeos não mostram ou não dão importância. Exemplos? Cuidados para se usar a serra tico-tico ou o trabalho absurdo – e nada glamouroso – de aplainar e lixar a madeira.

Para nós que trabalhamos bastante com e-Learning, vale a reflexão para a profundidade e o contexto dos conteúdos quando não há tutores envolvidos. (Aliás, já viu o nosso texto sobre camadas de público?)

Os percalços foram os esperados

Esse serviu como uma adequação de expectativas. Eu imaginava que teria problemas com o uso da serra tico-tico na minha mão. Foi difícil controlar potência, caminho e curvas da serra na madeira. O resultado foram alças ligeiramente assimétricas. De qualquer maneira, começar uma atividade já sabendo quais são os seus gaps (e claro, identificá-los ao longo do caminho) faz com que você entenda onde você está e onde você precisa chegar. Por isso…

Aproveite o caminho

Aprender uma nova atividade é uma maneira absurda de colocar em prática diversas habilidades sociais: empatia, resolução de problemas, trabalho em equipe. Iria demorar três vezes mais se fizesse sozinho e sem ouvir os mais experientes. E, claro, comprova que quanto mais sabemos, menos sabemos.

Foi uma experiência interessantíssima, porque tive a oportunidade de trabalhar com algo que sempre me fascinou, consegui desenvolver novas habilidades e foi uma maneira incrivelmente terapêutica de quebrar o meu bloqueio criativo. 🙂

O artista e o produto final | Foto: Carol Boaventura

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