O aquecimento global é uma realidade. Sociedade e governos estão cada vez mais atentos à situação e tomando medidas para se adaptar e combater esse cenário: a busca por um estilo de vida mais sustentável, a mudança das matrizes energéticas e a otimização de recursos.
E como fica o trabalho nessa situação? Quais habilidades devemos desenvolver para combater a tragédia da mudança climática e que irão nos manter ativos no mercado de trabalho?
A resposta passa pelas “green skills”, ou “habilidades sustentáveis”. Esse termo foi um dos grandes eixos de discussão da WorldSkills Conference 2019, que aconteceu em 23 e 24 de agosto em Kazan, na Rússia. Este será o primeiro post de uma série que faremos sobre as “green skills”.
Porém, antes de falarmos sobre as habilidades em si, permitam-me explicar o que é essa conferência e o contexto no qual ela está envolvida.
O que é a WorldSkills Conference?
A WorldSkills Conference é parte da WorldSkills Competition, a maior competição de educação profissional do mundo. Mais de 1.300 competidores de 63 países e regiões competem em 56 modalidades profissionais — de TI até soldagem, passando por cuidados sociais, carpintaria, cozinha, jardinagem e computação na nuvem. Esses competidores são jovens entre 17 e 22 anos de idade que representam o mercado de trabalho ou as escolas profissionais de seus países. O Brasil é representado por alunos e alunas do Senai e do Senac. Em Kazan, ficamos em terceiro lugar, atrás de Rússia e China. A WorldSkills Kazan 2019 foi a 45ª edição da WorldSkills Competition, que acontece a cada dois anos. São Paulo foi sede em 2015 e, em 2021, será a vez de Xangai, na China.
A conferência acontece de forma paralela à competição, com painéis, palestras e oficinas dedicados à discussão do papel da educação profissional nos dias atuais e aos assuntos que gravitam em torno da temática: políticas, inclusão e diversidade, habilidades necessárias e engajamento. Ter a oportunidade de ver a competição e a conferência é usufruir o melhor dos dois mundos: teoria e prática juntos.
As green skills
Um dos painéis que me chamou a atenção na conferência foi o “What are green skills? Making sense of the green economy”, com diversos legisladores e organizações. O tema central da discussão foi como dar à economia e à força de trabalho características e habilidades que nos permitam trabalhar em um cenário de transição de matrizes energéticas e também de economia circular.
Contudo, o que é uma habilidade sustentável? Segundo os painelistas, são aquelas que fazem sentido nos cenários descritos: gerenciamento de energia, tecnologias de construção, economia, logística, planejamento, hidráulica, elétrica etc. Além das habilidades técnicas, as “habilidades sociais” como criatividade, proficiência digital, comunicação, liderança e resolução de problemas também serão necessárias.
Segundo o documento “Skills for the Greener Future”, da Organização Internacional do Trabalho, apenas 2% da força global de trabalho será afetada por esses cenários. Ainda assim, são trabalhos que não irão desaparecer, mas que exigirão realocação e treinamento; já as pessoas que ocupam vagas que, sim, irão desaparecer poderão usar suas habilidades em indústrias em expansão — estamos falando em cerca de 100 milhões de novos empregos.
No entanto, a criação desses postos de trabalho e o treinamento das pessoas dependem de uma ação conjunta de toda a sociedade. Conforme disse Buti Manamela, vice-ministro de Treinamento e Educação Superior da África do Sul, “é importante que governo e setor privado trabalhem para despertar o interesse da juventude nessas habilidades”. O descompasso atual entre as habilidades requeridas e aquelas necessárias é um grande entrave para a ocupação dos postos de trabalho e o desenvolvimento de uma economia sustentável. Atualmente, dois a cada cinco trabalhadores de países-membros da OCDE são afetados por esse desencaixe.
São algumas razões para isso: a falta de coordenação entre governos, indústrias e economia; a baixa diversificação da economia; o acesso às energias renováveis; e os sistemas de ensino.
A responsabilidade sobre a transição para as habilidades e a economia sustentáveis recai majoritariamente sobre o governo, seja nos estímulos econômicos, seja na adaptação dos currículos escolares e profissionalizantes.
Ao mesmo tempo, o mercado e os consumidores devem ajudar na criação da demanda por produtos e serviços que utilizem as habilidades sustentáveis. Sindicatos e empresas podem — e devem — investir na requalificação e no upskilling dos profissionais.
O caminho é longo e promissor. Falaremos mais sobre isso em breve!