Há um tempo, eu e o Diego Mancini criamos o webinar “Improviso para não músicos”, onde falamos sobre a mentalidade dos músicos de jazz para lidar com o erro, o improviso, a liderança situacional, ambientes complexos. Usamos o bebop como uma analogia para o século XXI. Se o estilo foi uma ruptura com o que era o jazz até então e mostrou novos caminhos para os músicos, esse século tem feito o mesmo para a sociedade. Inclusive, o link acima é o trecho que falamos disso na primeira vez que rodamos o webinar.
Outro dia, rodando os meus links e anotações, lembrei desse texto do MIT Sloan Review, “Learning for a Living“, cuja linha fina é precisa: “aprender no trabalho é trabalhar e a gente precisa abrir espaço pra isso”.
O autor, Gianpiero Petriglieri, traz um longo argumento sobre como as organizações devem valorizar a aprendizagem no trabalho, abrindo espaço para que a aprendizagem transformativa coexista com a aprendizagem incremental. Segundo ele, “o aprendizado incremental nos faz caber no molde. Mas a aprendizagem transformadora nos torna desajustados. Ele convida à subversão responsável. Isso requer coragem”. Tomei a liberdade de traduzir um quadro que está na matéria:
Mostrei a matéria pro Diego e ele me pergunta: “Você conseguiu ver que a coluna da aprendizagem transformativa são praticamente as definições do bebop e dos processos do jazz modal?”
De repente, a luz. Não tinha percebido esse ponto que o Diego havia levantado e está super correto. Eu e ele falamos muito sobre Miles Davis e sua obra prima, o “Kind of Blue”, em nosso webinar como um exemplo de inovação e liderança. E é um super exemplo de playground também. Durante a gravação do disco, Davis deu à banda apenas esboços de escalas e linhas melódicas para improvisar. Uma vez que os músicos estavam reunidos, Davis deu breves instruções para cada peça e então começou a gravar o sexteto em estúdio.
Freqüentemente, os playgrounds fornecem um quadro claro para exploração, mas o deixam amplo o suficiente para que não haja uma única maneira de preenchê-lo.
Falamos sobre muitas coisas em nosso webinar, mas outra lição importante não estava sendo dita: os músicos de maneira geral, especialmente os de jazz, navegam melhor no mundo complexo e lidam naturalmente com erros e improviso porque sabem alternar entre as duas formas de aprendizagem: a incremental e a transformativa. Essas pessoas sabem melhorar a prática e experimentar novas formas de interpretação, sabem aproximar-se do ideal ao mesmo tempo que expandem as fronteiras.
Uma vez que começamos a dominar as duas maneiras de trabalhar com a experiência – prática deliberada e engajamento reflexivo – começamos a ter menos vergonha e mais coragem.
É outra óbvia conexão com aprendizagem e especialmente com a aprendizagem ágil. Devemos trazer isso pras nossas vidas também. As pessoas envolvidas com música já entenderam que não precisam de espaços e práticas formais de aprendizagem. Eles fazem de cada espaço, um espaço – e um momento – de aprendizagem.
JULIANA
Claç, clap, clap, meu caro Felipe