Adoro quando as conexões improváveis acontecem e rendem alguns aprendizados. Aconteceu comigo assistindo a esse episódio do “How to Musician”, apresentado pelo guitarrista Cory Wong. O tema é como ser um músico de apoio.
“Você está sendo chamado para dar vida à visão de alguém. É muito legal, mas traz laços com ego e humildade”. Ou seja, embora a pessoa que te contratou esteja reconhecendo a sua experiência e habilidade, você está servindo ao propósito dela e para colocar algo maior de pé. É necessário entender quais são as regras escritas e não escritas para isso acontecer. Veja abaixo.
Conectei demais com o que aprendo tocando bateria e também com o que eu e o Diego Mancini falamos no “Improviso para não músicos”. Nesse webinar, conectamos os desafios do mundo complexo que vivemos com a música, especialmente o bebop, um estilo que significou para o jazz o que o século XXI significa para nós: uma quebra do que era praticado e visto até então.
Esse pacote de experiências e conexões me mostrou três lições que eu queria compartilhar com vocês.
1) Entender o seu papel
Via de regra, o papel do baterista é ser “o motorista do ônibus”, ou seja, dar o ritmo para o resto da banda. Porém, estilos e pessoas diferentes pedem abordagens diferentes. Na minha prática de jazz, há espaço para a liderança situacional e a alternância de solistas e líderes, mesmo sabendo que há o Luciano Vieira, professor e baixista, exercendo o papel de líder de facto. Porém, ele dá o suporte para as outras pessoas liderarem em seus momentos de solo e dá orientações para o propósito maior, que é a execução da música.
Por outro lado, nos idos de 2004, bem antes de me mudar pra São Paulo e ou sequer pensar em tocar jazz, fiz alguns shows e ensaios com um artista que me pedia para tocar as músicas tal qual ele havia gravado, nota por nota. No começo foi muito estranho, até então minha experiência com pop e rock era mais solta. Mas o motivo de ter sido chamado era a minha capacidade de fazer a banda “andar”. Entender e respeitar o que ele queria era a regra e o meu papel. E aprendi a ser mais disciplinado na minha execução.
Tal qual na música, dentro do contexto profissional, é super importante entender o seu papel. Saber quais são as regras escritas e não escritas e, principalmente, entender que é um jogo infinito. Nada está escrito na pedra e revisitar acordos é uma prática recorrente.
2) O poder das habilidades socioemocionais
No vídeo, Cory Wong também traz bons argumentos sobre a conduta profissional no geral. Em qualquer ambiente de trabalho, as habilidades socioemocionais tem o mesmo peso das habilidades técnicas. Ou “as 23 horas fora do palco são tão importantes feito a hora em cima dele“. Para Cory, duas habilidades se destacam. Uma é a comunicação, fundamental para entender as diferentes formas que as pessoas lideram e fazem observações: ora mais conceituais, ora de uma maneira mais específica e técnica.
A outra é a criatividade, especialmente entender que as limitações impostas são excelentes oportunidades para exercitá-la. Para ele, a restrição nutre a criatividade e isso é uma estrutura, não uma jaula. É possível achar sua voz em diferentes contextos, especialmente quando não são aqueles determinados por nós.
Em um exercício simples, transponha esses dois exemplos para o seu dia a dia: quantas vezes um projeto não saiu como planejado pela falta de comunicação? Não ter medo de perguntar e estressar as possibilidades logo de cara é uma das formas de garantir que os esforços estão indo para a mesma direção.
E quantas vezes você sentiu-se bem resolvendo problemas e criando novas possibilidades utilizando recursos limitados?
3) Exposição e prática
Finalmente, tudo o que falamos tem a ver com a exposição e a prática. Só conseguimos repertório, solucionar problemas e abordar novos desafios quando estamos expostos, mostrando o nosso trabalho, aprendendo e trocando experiências com outras pessoas. Uma banda toca melhor a cada vez que ela toca e interage.
No nosso trabalho, a coisa funciona igual. Nosso trabalho, suas metas e entregas podem ser melhores ao somar as pessoas envolvidas, com suas experiências, vivências, pontos de vida e histórias de vida.
A cada vez que nos expomos ao novo, estamos mais preparados para projetos diferentes e desafiadores. Minhas novas experiências na música são mais fáceis porque já conheci algumas situações e toquei com uma quantidade legal de pessoas.
Essa analogia se aplica ao trabalho. Hoje lido com projetos de aprendizagem para empresas dos mais variados portes e segmentos, mas já trabalhei em agências de comunicação digital também atendendo a todo tipo de cliente e fiz projetos de educação no terceiro setor e na educação profissional. Esse “empilhamento de habilidades” e experiências acaba nos fazendo mais preparado para as situações.