Ando meio obcecado com esse artigo de Derek Thompson e que foi publicado na The Atlantic, sobre os períodos de muita produtividade, ou “hot streaks“, que artistas, cientistas e pessoas inovadoras têm em vários momentos da carreira. Espalhei para uma meia dúzia de pessoas, troquei ideias e refleti sobre. De alguma forma, tento compilar aqui esse apanhado.
Muitas vezes nos identificamos e passamos por momentos parecidos, onde conseguimos produzir materiais relevantes com alguma frequência. Outras vezes, acontece o oposto. Longos períodos sem nenhuma produção ou inovação.
A resposta para esse processo parece simples:
Explore, then exploit.
Em tradução livre: Explore, depois aprofunde (?). Esse fluxo parece ser a razão dos grandes momentos de produtividade e relevância. Ele também vem sido estudado há um tempo, tanto que “explore, then exploit” faz parte do título deste artigo de 1991, escrito por James March na Universidade de Stanford.
E 30 anos depois, fica claro que não há simplicidade no processo. Achar o equilíbrio entre “explorar novas ideias” e “aprofundar/aproveitar/se especializar das velhas certezas” continua sendo um desafio organizacional e pessoal*. Muito tempo no modo “exploração” e podemos sacrificar o lucro. Ao passo que muito tempo no modo “aprofundamento”, pode significar ficar para trás no desenvolvimento de novos produtos e serviços.
Dentro do contexto corporativo, há um extra. Não raro, as pessoas “exploradoras” e “especialistas” estão em áreas distintas e que não trocam entre si. Fico pensando no potencial criativo, de desenvolvimento e inovação que poderia acontecer caso as organizações conseguissem criar esse fluxo de exploração e aprofundamento.
Estimular a aprendizagem social, incentivar a prática de pequenos experimentos e melhorias incrementais, entender a maturidade e o anseio por desenvolvimento que as pessoas naturalmente possuem.
Além da definição dos acordos e momentos para que as trocas e pesquisas aconteçam, é fundamental que isso seja parte da cultura organizacional, entendendo também o dia a dia das pessoas. Afinal, a questão da exploração e aprofundamento de conteúdos e experiências também toca em acessos e privilégios. A aprendizagem social e o estímulo da curiosidade e criatividade parecem acontecer de uma forma mais natural em determinados ambientes organizacionais: escritórios e em posições menos operacionais.
Afinal, inovação e desenvolvimento vem da busca por novas ideias trabalhando em conjunto com reforçar as práticas já existentes. Como promover isso em diferentes ambientes corporativos?
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* Fica para um outro momento, mas essa discussão também se aplica às nossas vidas e interesses pessoais. Quanto tempo podemos (ou devemos) passar no modo exploração, antes de entrar na especialização? Mais do que isso, algumas pessoas, logo na infância e adolescência, se especializam e colhem frutos com isso. Artistas e esportistas, por exemplo. Como manter o espírito da exploração vivo?
Agradecimentos à Carol Brant, Angela Dannemann, Nira Bessler, Natália Menhem e Diego Mancini pelas trocas que ajudaram na construção desse texto e nas referências para futuros.