Naturalmente, esse texto tem um viés, porque fala de esporte. Ainda na faculdade, bem antes de sequer imaginar que um dia estaria trabalhando com aprendizagem, meu sonho era ser jornalista esportivo. Mesmo trabalhando com comunicação digital, meu trabalho de conclusão de curso foi sobre jornalismo esportivo. A vida, as escolhas e as experiências me levaram pra onde estou, trabalhando para ajudar as pessoas e organizações em processos de desenvolvimento e aprendizagem.
E esse olhar de aprendizagem tem sido especialmente útil em 2021, para conseguir enxergar coisas novas no esporte. Tem sido legal perceber como os Jogos Olímpicos representam uma oportunidade única de aprendizagem social. Especialmente para nós, que estamos assistindo, virando madrugadas (ou tentando) assistindo às disputas. Pra entender um pouco mais sobre as modalidades e as histórias além da competição, tenho percebido o poder de grupos de conversa e uma curadoria em redes feito o twitter.
Parece óbvio, claro. Mas achar uma rede com pessoas de confiança e saber onde achar e filtrar fontes de informação fazem muita diferença. Especialmente nesse mundo que vivemos, com excesso de conteúdo e em um evento com vários acontecimentos ao mesmo tempo.
Darei dois exemplos práticos.
O primeiro é aprender e trocar com pares. No grupo de amigos da escola, por exemplo, além dos comentários sobre os esportes, temos discussões sobre temas que gravitam em torno dos jogos. Pode ser a história de vida da Rayssa Leal, a saúde mental da ginasta multicampeã Simone Biles, a medalha de ouro dividida entre os atletas do salto em altura ou a imensa desigualdade e o perrengue de parte da nossa delegação por falta de patrocínio.
Vale dizer que nenhum de nós trabalha com esporte, apenas gostamos de assistir. Alguns sabem mais que outros sobre determinadas modalidades. Existem alguns acordos tácitos, comuns aos espaços de aprendizagem: confiança nos pares, o que traz a liberdade para fazer perguntas bobas e não dar informações sem embasamento. Um conteúdo externo, seja pra uma matéria, um artigo ou tweet, acaba complementando a história.
O segundo ponto dá suporte ao primeiro, Ou seja, o desenvolvimento da curadoria de conteúdo e como criar o repertório de referências e consultas. Isso “nos obriga a ser tolos”. Não uma pessoa estúpida e irracional, mas alguém que esteja disposta a fazer perguntas e criar espaços para que novas coisas brotem.
Lembrei dos três níveis de profundidade de conteúdo que é (era) utilizado pelo time de redes sociais da CIA: se informação é uma piscina/praia, quem fica na borda, quem nada e quem mergulha? Ou seja, uma analogia entre exploração e a quantidade e profundidade da informação desejada pela pessoa. Em um grupo diverso de pessoas e temas, existe uma mistura de públicos e níveis de conhecimento, o que é bom para todo mundo.
Então, alguém pode chegar e fazer a pergunta mais básica, seja no grupo ou Google, somente para “colocar o pé na água”. Por exemplo: “Como um esporte se torna olímpico?” ou “do que é feita a vara do salto com vara?”
O twitter também é um excelente repositório de informações e curadoria e que nos permite começar a nadar. A ferramenta de listas é ótima, porque permite que você separe contas e hashtags por temas específicos, e sempre há o espaço para a interação. No caso de Tóquio, descobri uma lista feita pela Associated Press, só com os jornalistas da agência que estão cobrindo os jogos ao vivo.
Finalmente, o mergulho. Ele pode vir de várias formas. Seja explorando referências e links de um verbete da Wikipedia, por exemplo, ou por meio de um link ou de uma informação vinda de alguém no grupo, que é específica em relação ao assunto que está sendo discutido.
É muito legal ver esse processo acontecer em um espaço orgânico, onde já existe uma conexão real das pessoas e que está amplificada pelos jogos. Pense quantos desses espaços existem ao seu redor, seja entre amigos ou no trabalho.
Porque não aproveitá-los para amplificar as oportunidades de aprendizagem através de confiança e curadoria?
Fica a reflexão. 🙂