A entrada da sala da MarCom na WorldSkills Abu Dhabi 2017
A entrada da sala da MarCom na WorldSkills Abu Dhabi 2017

O que a WorldSkills 2017 tem a ensinar

Nos últimos dias, estava nos Emirados Árabes trabalhando como voluntário na WorldSkills Abu Dhabi 2017. Para quem não conhece, a WorldSkills Competition é a maior competição de educação profissional do mundo. Jovens de mais de 70 países e regiões competem em 51 ocupações profissionais, de Solda até Serviço Social, passando por Alvenaria, Carpintaria, Cozinha e Web Design. A Competição é feita pela WorldSkills, uma organização sem fins lucrativos, junto com sua representante no país-sede. No Brasil, por exemplo o SENAI é o representante e foi o responsável pelo Comitê Organizador da Competição de São Paulo, em 2015. Fiz parte da equipe que construiu a Competição nessa ocasião e sou muito grato pela oportunidade.

Eu sempre defino a WorldSkills como a celebração dos diferentes tipos de inteligência e criatividade humanas. E isso é fascinante, juntar essa quantidade e essa diversidade de ocupações no mesmo lugar. Quando você anda pelo pavilhão, é incrível ver os competidores concentrados em seus projetos, e principalmente o público se interessando pelas ocupações mais variadas. De quebra, isso mostra como a Educação Profissional é uma opção de carreira viável para os jovens. Precisamos parar com o dogma de que o ensino técnico é para as pessoas “que não são inteligentes o suficiente para o ensino superior”.

Trabalhar na Competição novamente, com o histórico de ter organizado uma, e o fato de estar mais experiente e maduro me deu a oportunidade de fazer observações interessantes sobre o dia a dia do escritório e que eu gostaria de compartilhar aqui.

Da empatia e humildade

É imprescindível praticar a empatia em um país onde, assim como o nosso, a língua local é uma barreira. Tentei uma conversa com o primeiro taxista que peguei em Abu Dhabi. A coisa não andou muito bem porque o inglês dele não era o melhor de todos, longe disso. “Gente, que inglês horrível”, foi a primeira frase que veio à cabeça. Mas, será que alguma outra pessoa também pensou isso de mim quando comecei a conversar? É possível. Então, assim como naquela história do jazz, você sempre precisa se colocar no lugar do outro e estabelecer espaços de aprendizagem.

Por exemplo, porque não aprender mais sobre storytelling em vídeo com três pessoas da minha equipe que estavam lá para isso, ao mesmo tempo que poderia ensinar sobre a WorldSkills para eles

Robótica Móvel

Estruturas enxutas funcionam. E muito.

A WorldSkills International tem 16 pessoas em seu quadro fixo. São essas 16 pessoas – o Secretariado – que fazem a organização funcionar no dia a dia. Em épocas de Competição, eles criam o Secretariado Estendido, onde fui alocado durante o evento em Abu Dhabi. São quase 100 pessoas, chamadas para desempenhar diversas funções de acordo com a experiência de cada um, de comunicação a infraestrutura, passando por relacionamento com membros e serviço administrativo.

A lição aqui é saber manter uma estrutura enxuta e montar times de acordo com o projeto, conhecendo as experiências e as habilidades das pessoas que estão ali e quais são os desafios propostos. Isso nos leva a outro aprendizado:

Ambientes dinâmicos são… dinâmicos.

Apesar do longo período de preparação e construção de uma WorldSkills Competition, o Secretariado Estendido chega no local e começa a trabalhar cerca de uma semana antes do começo da competição. Todos chegam já com funções determinadas, mas nada está escrito na pedra. Por exemplo, eu estava designado para o time de mídias sociais. Após a primeira reunião de equipe, fui realocado para dar direção editorial à produtora de TV. No dia da cerimônia de encerramento, eu trabalhei junto com a Kim Vallis, fotógrafa no Winners Circle, o local onde os medalhistas são fotografados. Nesse caso, trata-se de encaixar as melhores habilidades para conseguir o melhor resultado possível.

O pouco tempo também exige pouco tempo de adaptação à função. As coisas acontecem em uma velocidade muito alta e é preciso achar os atalhos e assumir a liderança do seu projeto. Nesse sentido, ter conhecimento dos processos de produção de vídeos e, principalmente, a bagagem de já conhecer a Competição foi uma vantagem enorme. Esse pouco tempo dá autonomia e confiança muito grandes para nós em relação aos altos escalões. Não há tempo e nem espaço para microgerenciamento. É o clássico “Vai lá e faz”.

E finalmente…

Aproveite a diversidade

Finlândia, Inglaterra, Brasil, Canadá, Nova Zelândia…

Trabalhar num ambiente com pessoas do mundo todo e com históricos diferentes é uma oportunidade sensacional de ver a diversidade em prática no ambiente profissional, entender as necessidades, os desejos, os históricos de cada um e como isso foi aplicado na carreira e no trabalho desenvolvido.


Ainda vamos falar sobre as questões de aprendizagem, educacionais e de conteúdo da WorldSkills Abu Dhabi 2017. Fique ligado!

 

 

O que o Jazz pode te ensinar sobre aprendizagem

Eu toco bateria desde 1999. Durante alguns anos foi uma coisa semi-profissional, de resto, sou uma das maiores expressões do músico amador. E por uma questão de conforto, sempre variei entre o blues, o pop, o rock e o funk. Gosto especialmente deste último porque poucas coisas me deixam tão emocionado quanto o groove. Essa coisa abstrata, que é possível e impossível de definir. Quem já ouviu “Cissy Strut” do The Meters ou “Funky Drummer” do James Brown sabe do que estou falando. E acho que manter o groove é uma das funções mais nobres que um baterista pode ter. Junto com o baixista, a dupla perfeita pra fazer as coisas se desenrolarem numa música.

 

Mas na imensa maioria das vezes, esses estilos são previsíveis. A forma, a estrutura, a execução de uma música pop podem fazer o público dançar, mas não oferecem muitos desafios para o músico. Para mim não era um problema. Eu queria só fazer meu trabalho bem feito. Não gostava de solar, não gostava de muita pirotecnia, não queria aparecer mais do que o resto da banda. A perfeita definição de zona de conforto.

 

Nesse sentido, o jazz era uma utopia, um devaneio, um local que era impossível de ser explorado. Jamais teria a técnica, a desenvoltura necessária ou a coragem para se expor num estilo assim. Até o dia que resolvi tentar tocar, depois de ser convidado pelo Luciano Vieira, professor da prática de banda de Beatles que eu já participava. Essa primeir prática de banda me fez reaproximar do instrumento e da música. Quando o baterista da banda de jazz saiu, fui convidado. Eu topei, avisando que eu não sabia tocar. E aí, amigos, aí é que vem as lições, com dois anos de atraso.

 

Como identificar um potencial para aprendizagem

 

Eu começo colocando na conta do Luciano. Ele foi avisado que eu mal sabia fazer o compasso mais básico do estilo, mas isso não foi um impeditivo. Ou seja, ele identificou que eu poderia aprender a tocar jazz e teve a paciência para me guiar durante o processo. Algumas das características do bom educador passa por identificar oportunidades e potenciais de aprendizagem e dar o caminho e as ferramentas para facilitar isso.

 

A importância do ambiente de aprendizagem

 

Eu fui inserido naquele ambiente com músicos mais experientes do que eu. Dá para fazer duas analogias. A primeira, esse vídeo do TED-Ed com o baixista Victor Wooten. Nele, Wooten fala que deveríamos aprender música como aprendemos nosso primeiro idioma, incentivando os erros e conversando com pessoas fluentes na língua.

 

O segundo, pensando no modelo 70:20:10, é seguro dizer que 90% do meu aprendizado acontece nos ensaios. Afinal, tocar os temas e interagir com os outros músicos garante que estou aprendendo o estilo na prática. Naturalmente, os outros 10% vem dos estudos e referências que pesquiso em casa.

 

O Jazz estimula a colaboração

 

Muito falamos da colaboração nos diversos aspectos do ambiente profissional. E saibam, o jazz é uma das maiores expressões disso. Se você é músico, experimente fazer um ensaio de jazz. Se você não for, assista a um show e preste atenção nas interações dos músicos.

 

Há, obviamente, um tema e um caminho a ser seguido, mas ele é percorrido com muita improvisação, baseada nos solos dos músicos e em muita escuta. Você acaba prestando atenção nos estímulos e dicas que os outros músicos dão e você vai atrás deles.

 

É um ambiente que permite erros. E você aprende com eles.

Eu considero isso o maior dos aprendizados. Um dos meus confortos ao tocar música pop e rock, por exemplo, era saber que a forma “pré-moldada” da música, te dá pouca margem para erros. Sendo baterista então, você dificilmente fica “exposto”.

 

Ao assumir o desafio de tocar jazz, tive que testar as minhas habilidades e ferramentas em um outro campo. Eu tive que aprender a ficar confortável fazendo um solo. No meio desse processo é normal que você erre. No entanto, em um ambiente de estudo onde isso é permitido, não há outra alternativa a não ser aprender com eles.

 

E isso traz uma última e rápida lição sobre empatia e humildade. Se outros músicos são pacientes comigo, é necessário que eu seja paciente em ambientes onde eu sou mais experiente. E cada dia tenho mais certeza de que a melhor maneira de aprender é ensinando.

Existe um livro excelente sobre a relação entre jazz e gestão chamado “Yes to the Mess: Surprising Leadership Lessons from Jazz” escrito por Frank Barrett. Ainda falaremos sobre ele aqui.

Recomendo ler esse post de novo ouvindo “The Bridge”, do Sonny Rollins.

Cinco dicas para selecionar fornecedores

(Este post nasceu da nossa participação no Workshop Quick Start da Educação Corporativa Digital, feito pelo nosso amigo e parceiro Caco Ponsirenas para a Academia Eadbox)

Imagine que você está desenvolvendo o projeto de educação corporativa digital dentro da sua organização e precisa achar os fornecedores certos para fazer a coisa acontecer.

Pensando nisso, a gente traz esse checklist rápido e prático com cinco passos para ajudar vocês a fazerem a seleção dos fornecedores. Não é uma “receita de bolo”, claro – até porque, assim como a aprendizagem é pessoal, a escolha de um fornecedor também é – mas esses passos vão dar um norte na hora de separar o joio do trigo. E, atenção: o como aqui é mais importante do que os passos em si, que provavelmente são bastante familiares para vocês.

Indicação

Quando vocês procuram um fornecedor, por exemplo, um cabelereiro, um médico, um restaurante para levar alguém especial… Supondo que vocês ainda não têm ideia de nenhum, qual é a primeira coisa que vocês fazem?

Pedir uma indicação, claro! De preferência para alguém próximo, um amigo, um parente que já tenha tido experiência com aquele fornecedor e possa recomendá-lo. Isso reforça o caráter pessoal da escolha, como mencionamos antes.

Então, o primeiro passo, apesar de óbvio, é a indicação. Conversem com os colegas do mercado que trabalham com educação digital e possam indicar fornecedores com quem tiveram boas experiências.

Vocês também podem usar as ferramentas de indicação das redes sociais. O Facebook, por exemplo, tem uma exclusiva para solicitação de recomendações. E, para quem não conhece, no Facebook também tem um grupo chamado Gestores de E-learning, em que as pessoas sempre estão pedindo e recebendo recomendações.

Investigação

O segundo passo é a investigação. Ela é muito importante quando você ainda não conhece o fornecedor, mesmo que ele tenha sido indicado por alguém da sua confiança.

Um bom começo é fazer uma pesquisa básica de internet. Visitem o site do fornecedor, a página do Facebook, as redes sociais dele em geral e analisem pelo menos três itens:

  1. Avaliações de quem já usou o serviço daquele fornecedor. Mais do que as estrelinhas que a gente vê no Facebook, analise os comentários das pessoas, quantos – e quem – são os seguidores daquele fornecedor, etc. Aí vale complementar conversando com pessoas que já tenham de fato usado os serviços dele.
  2. Qualidade do conteúdo público. Nesse ponto, vale olhar se o site é coerente e bem escrito, se existe um blog com conteúdos interessantes relacionados ao tema, se as redes sociais trazem postagens relevantes, que agregam valor… Percebam que esse critério ajuda a refinar os filtros anteriores.
  3. Como o fornecedor “vende o peixe”. Muitos fornecedores cometem o erro de priorizar ferramentas e tecnologias antes de entender o que tem de ser feito. Então, atenção: o fornecedor está vendendo uma proposta educacional ou um monte de ferramentas? Ele está tentando te atrair pela pirotecnia tecnológica ou por uma real preocupação com as necessidades do seu público?

Aproximação/Contato Direto

Passadas as indicações e investigações, agora é hora de conversar com o fornecedor, seja de maneira presencial ou online. Esse é um ótimo momento para vocês avaliarem mais uma vez como ele vende o peixe.

Nesse momento é também a hora em que a maioria das pessoas pede referências e, aí, evitem cair na armadilha do deslumbre. O que é isso? Bom, não se deslumbre com um visual muito bonito ou uma solução que às vezes nem cabe no seu bolso. Claro, uma apresentação pode e deve ser bonita, porém, preocupe-se em entender o contexto daquelas referências. Pergunte sob que circunstâncias aquela solução foi desenvolvida, quem era o público, como a solução foi pensada para ele… Afinal, de que adianta ter um visual bonito e a usabilidade, o conteúdo serem ruins?

Aqui vale um reforço. No mercado B2B, os fornecedores estão sempre trabalhando com informações de alta confidencialidade. Então, fique atento também a como o seu pretendente lida com elas. Ele é muito fácil em compartilhá-las? Entrega conteúdos de outros clientes sem qualquer ressalva, inclusive de concorrentes? Desconfiem e, se necessário, perguntem como ele lida com a questão da confidencialidade. Afinal, ninguém quer ver o lançamento do seu novo produto ou sua estratégia de marketing na mão de um concorrente.

Negociação

O quarto passo é a negociação. Não estou falando de preço, que também sabemos o quanto é importante, mas de como o seu pretendente a fornecedor negocia. Ele é transparente na hora de precificar a proposta? Cobra um valor justo pelo serviço ou conforme o porte do cliente? Essa última parte vocês podem descobrir também com um pouco de investigação entre os colegas.

Nesse sentido, a gente gostaria de ressaltar que a negociação por parte do fornecedor muitas vezes é reflexo de como o cliente negocia. Então, a transparência, o “papo reto” são essenciais para uma boa relação de parceria. Lembre-se que, mais que um fornecedor, vocês estão procurando um parceiro que os ajude a fazer o projeto dar certo. Aliás, tem empresa que já trata fornecedor como “parceiro de negócio”, pensando em ganha-ganha e tudo mais. Por outro lado, tem empresa que também se aproveita do poder que tem e impõe condições abusivas. Isso prejudica a gestão de fornecedores, diminui as opções da empresa e pode acabar atrapalhando na entrega de boas soluções.

Comparação

Compare os pretendentes a fornecedores com base na análise dos quatro passos anteriores. Então, para tomar a decisão final, avaliem a proposta do fornecedor com base nas suas necessidades. Para isso, vocês podem classificar os requisitos: o que é essencial, o que é importante e o que é desejável? Qual – ou quais fornecedores melhor atendem a essa lista. Se ainda assim houver empate, inclua mais uma classificação: o que é excepcional, isto é, o que o fornecedor trouxe “a mais”?

Se vocês seguirem esses passos, vão ter um filtro robusto para a escolha final. Uma dica aqui que provavelmente todos já conhecem, mas não custa lembrar, é: sempre que possível, tenham mais de um fornecedor, mesmo que um deles seja muito mais acionado do que os outros. Por mais que vocês adorem o trabalho de um fornecedor específico, é fundamental ter opções, seja para eventuais demandas específicas, aumento repentino de volume, problemas com o fornecedor favorito ou simplesmente um fornecedor backup mesmo.

Para facilitar, fizemos o infográfico com os nossos cinco passos. E para você? Quais são os critérios para escolher um bom fornecedor? Conta pra gente!

O que podemos aprender com as pessoas amadoras

(Post atualizado em 13/09/2021)

Outro dia, na minha ronda pelo LinkedIn, vi um dos escritores mais influentes da plataforma comparando “profissionais e amadores”. Embora eu tenha entendido a intenção, mostrar que são duas posturas diferentes no ambiente de trabalho, ele pecou na abordagem, diminuindo o papel do “amador” e supervalorizando o papel do “profissional”.

Eu gostaria de discordar desse ponto de vista. Porque é injusto colocar a pessoa amadora como “ruim de serviço” e a profissional como “boa de serviço”. Para mim, a grosso modo, a diferença fundamental entre os dois tipo é se a atividade em questão é a fonte de renda da pessoa. Apenas.

Eu gosto muito da definição de “Amador” dada pelo escritor e artista Austin Kleon:

“Amadores são pessoas normais que ficam obsessivas a respeito de uma coisa e passam um tempão pensando alto sobre isso… O entusiasmo ‘cru’ é contagioso.”

Eu sou fotógrafo amador. Amo fotografia, pesquiso câmeras, técnicas, sites sobre o assunto. E muitas vezes empreguei mais paixão e dedicação ao assunto do que para algumas coisas profissionais.

O Marcos, por exemplo, é corredor amador. Estuda, se prepara, tem uma abordagem tática e técnica sobre a corrida. O fato dele não ser remunerado por isso não o desqualifica como um corredor. (Aliás, leia esse textaço da Aline Rabelo, corredora e escritora amadora, sobre corridas e preparação mental)

Ah, e como desqualificar o trabalho extraordinário feito pelos radioamadores durante o Furacão Harvey nos Estados Unidos?

Existem algumas outras coisas que eu gostaria de destacar:

Os amadores não têm medo de compartilhar seu aprendizado

Já percebeu os inúmeros sites e vídeos no estilo “Faça você mesmo”? As pessoas estão compartilhando o conteúdo como se todos nós fôssemos colegas na mesma sala.

A paixão por um mesmo assunto faz com que os amadores não tenham medo de compartilhar o que aprenderam, na esperança de receber mais aprendizado de volta.

O amador nunca dá nada por garantido

No espírito amador, a exploração é uma constante. Quais os novos limites a serem descobertos, quais as novas perguntas devem ser feitas? E se por um acaso, ela descobriu tudo sobre um assunto, qual é o próximo. O que vem depois?

Em nosso cotidiano, manter esse espírito é importante. Nos dá margem para achar novas soluções para problemas antigos e, porque não, novos problemas para serem solucionados também.

Abrace o desconhecido!

Finalmente, como diz Austin Kleon, “nosso dia a dia tem mudado em uma velocidade espantosa, e até para os profissionais, a única maneira de florescermos é mantendo o espírito dos amadores e abraçando as incertezas e o desconhecido.

De certa forma, o espírito explorador dos amadores seja uma boa resposta para o mundo complexo que vivemos. Abraçar o desconhecido, explorar possibilidades, compartilhar perguntas e respostas com outras pessoas. Além da aprendizagem, tudo isso nos ajuda também no desenvolvimento de habilidades importantes para os tempos atuais: comunicação, criatividade, colaboração.

Vamos colocar o espírito amador para funcionar?

Webinars: dicas práticas para quem vai começar

Os webinars estão cada vez mais populares, seja como instrumentos para entrega de conteúdos em estratégias de marketing digital, ou como parte de uma estratégia maior de um programa de educação online.

Recentemente, vivenciei esses dois formatos provendo ou ministrando aulas em cerca de vinte sessões e a minha conclusão é de que, quando bem utilizados, os webinar são poderosíssimas ferramentas de aprendizagem, ou de apoio à aprendizagem.

Nesse post, compartilho algumas dicas práticas que consolidei e testei nessas últimas semanas.

Dicas práticas para melhorar seus webinars

Com base na experiência recente, criei essa pequena lista de boas práticas que podem ser adotadas por quem vai experimentar pela primeira vez, ou por quem já utiliza os webinars em suas soluções:

  1. Não economize na comunicação. As pessoas têm agendas cada dia mais complicadas. Por isso, é importante que você envie o “Save the Date” com bastante antecedência, três semanas por exemplo. Na sequência, reforce a comunicação uma semana antes da aula, um dia antes e uma hora antes. Nesses dois e-mails mais próximos da aula envie novamente o link de acesso e os objetivos da aula.
  2. Inicie a transmissão antes do horário. A transmissão, não a aula. A dica aqui é criar uma tela de espera, com algumas informações básicas, como título e objetivo da aula, nome do professor, o horário em que a aula efetivamente vai começar. Isso é importante porque muitos alunos têm dificuldade em acessar as plataformas de webinar e, assim que entram, ficam tranquilos ao perceber pela tela de espera que a conexão está ok.
  3. Programe-se para ajudar os alunos nos primeiros minutos. Por mais intuitiva que seja a sua plataforma, muitos alunos precisarão de ajuda técnica para alguns detalhes como habilitar microfone, visualizar determinados recursos ou até mesmo entender o modelo de interação que você planejou. Antecipe-se e tenha as principais respostas prontas.
  4. Receba bem os seus alunos. Estamos falando de acolhida mesmo. Imagine que você está numa sala de aula presencial e que seus alunos vão entrando na sala. Você não vai dizer “bom dia”? E se a ferramenta que você escolheu permite a interação dos alunos, não as ignore. Isso seria como um balde de água fria.
  5. Planeje a aula com momentos de interação. Na prática, o que vai diferenciar um webinar de um vídeo gravado que tem hora certa para passar é o quanto os seus alunos conseguirão participar, interagir, perguntar e responder. Crie provocações, pergunte a eles o que eles acham sobre determinado tema antes de você dizer a sua opinião. Você vai perceber como isso enriquece muito a aula.

Talvez você precise de ajuda.

Se você vai iniciar no mundo dos webinar como professor ou provedor de conteúdo, é muito provável que venha a precisar de alguma ajuda durante as primeiras sessões. Eu precisei. Foram dois pontos principais:

  • Operar a ferramenta que gera o webinar. Desde configurar corretamente, a utilizar os diversos recursos. Esse ponto você pode treinar sozinho. Recomendo que você se mantenha no campo da simplicidade no início e, conforme for adquirindo mais desenvoltura, adicione ações mais sofisticadas à aula.
  • Facilitar as interações dos alunos “e” dar aula ao mesmo tempo. Infelizmente não é possível simular como os alunos vão interagir. A experiência deverá ser adquirida ao longo das aulas de verdade. A minha dica aqui é: (se possível) tenha alguém logado na aula te ajudando como se fosse um professor assistente. Apresente esse professor assistente para os alunos e com certeza sua aula vai fluir melhor.

Marinheiro de primeira viagem? Não se afogue.

Acredito que as três maiores dificuldades que você terá realizando um webinar serão essas:

  • Gerenciar a ferramenta ao longo da aula, apresentando slides, vídeos, a sua câmera etc nos tempos certos, sincronizados com o seu plano de aula. Dica: comece simples.
  • Aprender a lidar com o Delay. Sim, na maioria das ferramentas o seu aluno não estará ouvindo/vendo você em tempo real. Há sempre alguns segundos de atraso e esse atraso é diferente para cada um dos seus alunos presentes à sessão. É importante lembrar disso na hora de planejar as interações. Se seus alunos estão demorando a interagir, provavelmente esse é o problema. Dica: evite criar períodos de silêncio. Por exemplo: quando fizer uma pergunta, prossiga dizendo aos alunos o quanto aquela pergunta é importante para o contexto da aula, até começarem a aparecer as primeiras respostas.
  • Falar para a câmera. É mais fácil do que gravar videoaulas, com certeza. Mas dar uma aula mais longa sem ter aquele feedback imediato dos alunos (ou seja, suas expressões faciais) às vezes pode te levar a questionar se a aula está num caminho bom. Para minimizar isso provoque feedbacks constantes durante a aula ou tente ler isso nos momentos de interação.

A sala de aula invertida sem a sala.

Sem dúvida, a situação mais rica do ponto de vista educacional é quando utilizamos o webinar como parte de um programa de treinamento ou educação digital, combinado com outras estratégias. Você pode simplesmente escolher um momento e parte de um conteúdo para expor ao longo de uma trilha, pode criar sessões “tira-dúvidas”, enriquecer sua solução blended ou até mesmo utilizar a estratégia da sala de aula invertida, mesmo num programa 100% digital, ou seja, seus alunos podem ter contato com os conceitos nas atividades assíncronas (vídeos, htmls, games etc) e praticar esses conceitos numa sala de aula virtual, com apoio dos colegas e do professor. Essa foi a estratégia que usei nas iniciativas que vivenciei nas últimas semanas e os resultados não poderiam ter sido melhores.

Entre os benefícios que percebi nesses webinars, destaco os seguintes:

  • Favorece a aproximação entre alunos e professor. O conteúdo deixa de ser visto como algo estanque e a relação volta a ganhar contornos mais humanizados, fortalecendo os elos emocionais da aprendizagem.
  • Cria-se um claro momento de apoio ao processo de aprendizagem. Momento em que os alunos podem esclarecer pontos dos conceitos apresentados por outras mídias do programa oferecido, com bastante liberdade para perguntar e estressar qualquer ponto.
  • Cria-se um momento em que alunos e professor podem trocar experiências, aprender com situações já vividas tanto pelo professor quanto pelos alunos. Torna possível ainda que o aluno tenha a oportunidade de entender como determinado conceito pode ser aplicado numa situação específica do seu dia a dia.
  • Cria-se um compromisso, uma agenda. Principalmente no modelo de tira-dúvidas ou de sala de aula invertida, a realização de atividades prévias favorece que o aluno passe a ter compromissos com o curso além do deadline de conclusão. Fator importante para favorecer o engajamento e o progresso do aprendizado numa velocidade que respeite o ritmo dos alunos, mas que impeça a procrastinação exagerada.

Em outras palavras, usar o webinar como parte de uma estratégia educacional maior aproxima sua iniciativa educacional dos princípios da andragogia, o que vai destacar os fatores de relevância do seu curso, melhorar a experiência do aluno e favorecer a conexão entre os alunos, entre alunos e professor e entre os alunos e as diversas aplicações dos conceitos estudados.

 

O que é um webinar?

Há diversos formatos de aulas online que podem ser chamadas de webinar. No entanto, o mais comum é que o webinar se caracterize por ser uma aula ao vivo, transmitida via ferramentas específicas para captura e streaming, utilizando uma webcam, pela qual o professor dá a aula interagindo com os alunos e utilizando capturas de telas, apresentações de PowerPoint ou outros recursos digitais, pela internet (algumas empresas transmitem via satélite).

Não vou me prolongar na definição por dois motivos: 1) Há diversas outras formas de realizar um webinar, com mais ou menos recursos; e 2) O que importa aqui é o efeito, o impacto, que essa estratégia causa nas iniciativas educacionais e não sua definição técnica.

Na prática, estamos falando de um meio termo entre a educação em sala de aula (presencial e síncrona) e o que o mercado se acostumou a chamar de e-learning (a distância, online e assíncrono).

Reunião na Fazenda Alegria
Reunião na Fazenda Alegria

Sobre aprendizagem contextualizada e a troca de experiências

Eu gosto quando os encontros mais casuais resultam em convites inesperados. De uma cerveja no happy hour, saiu um convite para acompanhar uma das reuniões do Fórum Conspira 6 Irmãs, o encontro de diretores de escolas das cidades mineiras de Baldim, Capim Branco, Funilândia, Jequitibá, Matozinhos e Prudente de Morais.

Esses encontros são mensais e são uma boa oportunidade para os diretores compartilharem suas experiências e desafios na gestão escolar. Em cada um desses encontros, uma escola mostra o que tem desenvolvido. O de junho aconteceu na segunda passada, 28/06, na Fazenda Alegria, que fica em Funilândia. Não por acaso, vale ressaltar, uma vez que a Escola Lafayette Neiva funciona dentro da fazenda.

Poder ver as práticas da escola e o papel no desenvolvimento dos empregados da Fazenda Alegria me permitiu observações interessantes e que eu gostaria de compartilhar aqui.

A Lafayette Neiva começou suas atividades em 2001, com oito alunos. Hoje são 34, com diferentes graus de escolarização. As aulas acontecem duas vezes por semana, durante o horário de trabalho e a carga horária é de 120 horas/ano. O foco é em Leitura, Escrita e Cálculo e com a metodologia da Aprendizagem Contextualizada. Ou seja, aquilo que os alunos veem na sala de aula é rapidamente colocado em prática no dia a dia. E, convenhamos, há muito que se colocar em prática nas tarefas de uma fazenda.

Os alunos são absolutamente fascinados com a escola e os momentos de aprendizado. É um cenário diferente do que vemos em diversos casos da escola e na aprendizagem corporativa. O que faz essa adesão ser maior? O fato de ser no horário de trabalho? O empoderamento que a educação de jovens e adultos traz?

Pode ser tudo isso junto. Uma das alunas, que terminou o ensino médio, deu um depoimento e disse que jamais pensava em continuar a estudar, pela falta de tempo e porque sempre tinha coisa para resolver em casa, “especialmente quando se é mulher, né?” Outro aluno disse que quando começou a trabalhar na fazenda, só pensava em providenciar dinheiro para a casa. Poder estudar também deu a chance dele se envolver na vida escolar da filha e levar conteúdo pra dentro de casa.

Outra forma de encurtar as distâncias entre a casa e a sala de aula foi a adoção do EAD como ferramenta pedagógica. Os alunos usam a Khan Academy para aprenderem matemática. Além dos conhecidos benefícios do ensino a distância, usar a Khan Academy possibilitou o primeiro contato de alguns dos alunos com o computador. As famílias também ficaram interessadas na plataforma e na possibilidade de poder aprender de qualquer lugar.

Ou seja, é um outro exemplo da relação ganha-ganha tão bem explicada pelo Caco nesse post e que mora no clichê de que investir na educação do seu time traz resultados para a empresa, formação e auto-estima para os funcionários.

A aprendizagem contextualizada cumpre um papel importante também. É mais fácil aprender e fixar conhecimentos sobre leitura e escrita quando se lê e redige documentos, por exemplo. Ou, melhor, falar de cálculo e medir uma área, seja de uma horta ou de um jardim. Além disso, dentro dos processos de qualidade, a fazenda faz uma espécie de avaliação 360º, onde cada time avalia o seu trabalho e o trabalho dos outros. O que não é bem avaliado vira um plano de ação com melhorias.

No final das contas, foi uma manhã super interessante e que valeu pela troca de experiências. Espero que os diretores das escolas tenham se inspirado e percebido que não é preciso um grande investimento para conseguir introduzir novas práticas e aumentar o engajamento na escola e na sala de aula. Essa reunião ainda rende assunto para mais alguns posts. Deixei dois assuntos propositalmente de fora: a mediação em sala de aula e os novos papéis na escola.

Quando o conhecimento torna-se mais acessível, o papel do professor e da escola mudam, deixando de ser o espaço para o aprendizado em si, mas sim para a troca de experiências, a mentoria e, claro, a socialização. As escolas e organizações que criarem ambientes mais diversos e interessantes sairão na frente, tanto na formação dos alunos e indivíduos, quanto na conquista de resultados cada vez melhores para todos.

Negotiations | Silke Gerstenkorn - Flickr
Negotiations | Silke Gerstenkorn - Flickr

Os quatro fatores que influenciam uma relação ganha-ganha

Há uma espécie de consenso mundial, uma unanimidade, a respeito de que relações de parceria, negociações ou mesmo relações de consumo sejam “ganha-ganha”. Há quem diga “ganha-ganha-ganha” ou ainda “ganha-ganha-ganha-ganha”. Na verdade, não importa a quantidade de “ganhas”, mas na teoria todo mundo defende que é sempre melhor, mais sustentável e mais justo que nas relações entre pessoas, físicas e jurídicas, se busque sempre aquela em que todas as partes ganham (como o próprio nome diz).

Mas na prática a teoria tem se mostrado diferente. Forjar parcerias ganha-ganha não parece estar na lista de prioridades das empresas e das pessoas de modo geral. E numa análise superficial, poderíamos criticar nossa sociedade apontando para o inconfundível estandarte da hipocrisia como causa dessa distância entre discurso e prática.

Mas eu vou pedir um minuto seu para uma análise um pouco mais profunda, antes que a gente condene a humanidade de maneira sumária. Meu argumento de defesa está baseado principalmente na dificuldade que as pessoas têm de compreender quatro fatores que influenciam a formação de uma parceira ganha-ganha e em como, num impulso de insegurança, as pessoas buscam se proteger daquilo que não compreendem. Explico:

Como eu disse, há quatro fatores que influenciam ou determinam a formação de uma parceria, ou relação ganha-ganha. Os três primeiros, apesar de não necessariamente determinarem o sucesso desse tipo de relação, são os fatores que determinam a dificuldade ou a facilidade que você vai encontrar numa mesa de negociação ao tentar forjar uma relação ganha-ganha.

Precisamos entender que, quanto mais equilibradas as forças entre as partes, mais fácil será concretizar uma relação ganha-ganha

O primeiro é o Equilíbrio das Forças das partes na negociação. A força numa negociação pode se dar por meio de vários fatores. Muitas vezes acreditamos que o tamanho de uma empresa sempre vai determinar sua força num momento de negociação, mas nem sempre essa é a regra. Na verdade, a força tem muito mais a ver com a capacidade de ser único numa solução, ou do grau de diferenciação que se pode trazer. Levando esse fator para um extremo, para facilitar o entendimento, imagine que a Ferrari queira contratar o Ayrton Senna. A Ferrari é uma empresa grande, rica e poderosa, mas na mesa de negociação o Ayrton Senna teria a mesma força (ou ainda mais força) do que a Ferrari, pois não haveria tantas outras opções com o grau de diferenciação que o talento deste piloto traria para a empresa. Quando a gente pensa nesse fator, o Equilíbrio das Forças, precisamos entender que, quanto mais equilibradas as forças entre as partes, mais fácil será concretizar uma relação ganha-ganha. Quanto maior a diferença, mais difícil. Mas, mesmo em casos extremos de diferença entre forças, esse fator, na teoria, não impede que esse tipo de relação aconteça.

O segundo fator é a Percepção de Valor que uma parte tem da outra parte. A diferença entre este fator e o primeiro é que este é completamente subjetivo e relativo, pois não se trata do valor que eu acho que eu tenho ou minha empresa tem, mas sim o valor que um parceiro vê em mim, ou na minha empresa, ou naquilo que eu posso fazer por ele. Voltando ao exemplo da Ferrari, se você imaginar que eles estariam procurando um “segundo piloto” e não um principal, é possível que eles percebessem mais valor em outro piloto qualquer do que no Ayrton Senna. O excesso de talento dele poderia vir a ser um problema para a Escuderia, que teria que administrar uma possível briga de dois pilotos. Quando as partes percebem que a outra parte traz bastante valor para uma parceria ou negociação, as possibilidades de se forjar uma parceria ganha-ganha aumentam. Quando uma das parte não acredita que a outra parte pode trazer um valor considerável, essas possibilidades diminuem. Mas assim como no primeiro fator, pelo menos na teoria, o desequilíbrio entre as percepções de valor não impede que a relação ganha-ganha aconteça.

O terceiro fator é o Investimento Necessário para se formar a parceria. Ou seja, o quanto as partes precisam investir para que a parceria ou negociação aconteça. Muitas vezes é necessário investir recursos (dinheiro, tempo, pessoas etc) para iniciar uma parceria. Imagine que você está fechando uma parceria com uma empresa de comércio eletrônico para vender seus produtos num market place exclusivo para a sua marca. Nesse caso o seu parceiro terá que investir alguns recursos para customizar a sua página. Mas, além dos recursos, é importante somar nesta conta aquilo do que as partes precisam abrir mão para entrar numa parceria. Por exemplo, quando uma agência de publicidade pega a conta de uma empresa, normalmente ela precisa abrir mão de concorrer a contas de outras empresas do mesmo segmento. Neste fator, quanto menos recursos as partes tenham que investir, ou abrir mão, mais fácil torna-se concretizar uma parceria ganha-ganha. Outra forma desse fator influenciar a negociação é a relativização dos investimentos. Ou seja se uma parte precisa investir muito mais do que a outra, as chances de uma parceria ganha-ganha diminuem. A exemplo dos dois primeiros fatores, apesar de influenciar muito, esse também não inviabiliza uma parceria ganha-ganha, pelo menos na teoria.

Abro parênteses para esclarecer que esses três fatores também se compensam entre si. Ou seja, pode ser que uma das partes na negociação precise investir muito, ou abrir mão de muita coisa (é muito comum na relação empregado/empregador – sim, essa pode ser uma relação ganha-ganha também – pois o empregado quando aceita o emprego abre mão de todas as outras empresas naquele momento), mas por outro lado, a percepção de valor seja muito alta (nesse exemplo do empregado/empregador o empregado pode ver muito valor na empresa que o está contratando, pelo salário, ou mesmo pelo histórico profissional que ele poderá construir). Essa compensação entre os fatores, quando acontece, também favorece uma parceria ganha-ganha.

O quarto fator é o único dos quatro que é imprescindível para se forjar uma relação ganha-ganha. Trata-se da Determinação das partes em forjar parcerias ganha-ganha. Na prática, significa dizer que, quando um não quer, dois não fazem uma parceria ganha-ganha, não importa o quão favorável sejam os demais fatores. Em alguns casos, pode-se também chamar esse fator de boa-fé.

Mas, se o fator Determinação é assim tão imprescindível, porque perder tempo entendo os demais? Não basta apenas verificar se existe a tal determinação de ambas as partes e pronto? Isso seria verdade quando tratamos a determinação como boa-fé, ou melhor, a falta dela. Se uma das partes, ou as duas, tem agendas ocultas ou não estão agindo de boa-fé, definitivamente não importa como se apresentam os demais fatores.

No entanto, tratando esse fator realmente como Determinação, como eu disse anteriormente, os demais fatores poderão encorajar ou desencorajar as partes em buscar uma parceria ganha-ganha, porque entra em cena a insegurança, também já mencionada. A insegurança em muitas vezes (ou em quase todas), é resultado da incerteza. Eis aí a importância de se mapear os três primeiros fatores.

O mapeamento do Equilíbrio das Forças, da Percepção de Valor e do Investimento Necessário vão trazer clareza aos pontos de desequilíbrio.

O mapeamento do Equilíbrio das Forças, da Percepção de Valor e do Investimento Necessário vão trazer clareza aos pontos de desequilíbrio. E como eu já citei, tais pontos de desequilíbrio não impedem a concretização de parcerias ganha-ganha, desde que as partes estejam realmente conscientes de seus papéis na parceria. Mapear esses fatores pode também ajudar às partes a amenizar os desequilíbrios da parceria, buscando compensações diretas (no próprio fator desequilibrado) ou indiretas (compensando o desequilíbrio de um fator em outro).

A minha conclusão é de que vemos muito mais parcerias leoninas ou injustas não porque as pessoas sempre agem de má fé. Muitas vezes a falta de um entendimento amplo da parceria, do mapeamento de todos os fatores, faz com que as pessoas busquem medidas de proteção, buscando a maior vantagem possível numa relação, mesmo que isso prejudique ou oprima a outra parte, por não ter a segurança de que todos os riscos estão na conta. Desta forma, a insegurança fica no controle e a determinação em realizar parcerias vai por água abaixo.

A mensagem aqui é: não basta você acreditar que é possível, que é melhor para todos criar parcerias onde todos ganham. Para ver isso acontecer com mais frequência, devemos nos esforçar para entender a parceria por todos os ângulos, enxergar a negociação com os olhos da outra parte e, claro, nos afastar daqueles que, independente do assunto, querem simplesmente levar vantagem em tudo.

Discussion | David Bleasdale - Flickr
Discussion | David Bleasdale - Flickr

Sobre um curso de batismo, narrativas e espaço de discussão

Em janeiro, precisei “interromper” minhas férias em Guarajuba, Bahia, para fazer um curso de batismo. Sou padrinho da minha prima e precisei do curso para estar apto à função. Fui para Salvador num sábado e fiquei toda a manhã no Centro Comunitário de uma igreja. Achei simbólico fazer esse curso na cidade que é a minha definição de sincretismo religioso.

A sala estava até cheia, talvez umas 25 pessoas, Algumas super interessadas, outras nem tanto. E o voluntário que dava o curso, percebendo a morosidade da sala, resolveu estimular a discussão dizendo que gostaria de ouvir casos da presença de Deus na vida dos participantes. “Se vocês não contarem, eu falo”.

Todo mundo ficou em silêncio. Então, ele contou que a esposa estava terminando o tratamento contra um câncer de mama. A doença foi descoberta no fim do período de amamentação da segunda filha e ele “resolveu encarar isso na companhia de Deus”. Todo mundo ficou emocionado, naturalmente, imaginando a barra que aquela família enfrentou.

Eis que um cara no fundo da sala levanta a mão, ergue o tom de voz e agradece o voluntário por ter dividido a história com todos nós. Mal deu tempo do voluntário falar alguma coisa e o sujeito continuou. “Não tenho nenhuma dúvida da presença de Deus na minha vida, que é infinita, mas fico me questionando o que estamos fazendo aqui”. Depois do climão, houve uma breve discussão sobre a obrigatoriedade daquele curso ser presencial.

Não consegui deixar de pensar nesse momento do curso. E ele é interessantíssimo pelo viés da comunicação, porque me lembra das inúmeras vezes que estive em sala de aula ou em uma palestra e havia um abismo cognitivo entre o palco e o público.

E o voluntário agiu certo. Uma experiência pessoal é uma boa forma de criar empatia com o público. Porém, ela deve servir para aquecer a discussão e não finalizá-la. Ao contar um caso super pessoal, ele conseguiu criar empatia com a gente, mas não conseguiu criar um momento de troca de ideias. Ninguém iria contar uma experiência que fosse similar àquela, apenas se solidarizar com o sujeito. Um desemprego, um problema menor de saúde, um dilema pessoal não se comparam com aquilo. Era melhor ele começar com estes exemplos “menores”, para estimular e discussão. Se necessário, poderia contar esse caso.

Mas, e a obrigação de estarmos lá? De vez em quando, temos o questionamento certo mas na hora errada. Eu tenho uma preguiça imensa de momentos sem sentido e fico puto quando percebo que meu tempo poderia estar sendo melhor aproveitado. O cara que fez o questionamento tinha os mesmos sentimentos. “Sou professor e não faço chamada em sala de aula. Quem está lá, está verdadeiramente interessado”. Depois disse que era voluntário da Cruz Vermelha e que poderia estar mais próximo de Deus fazendo outra coisa naquele momento. “Estou me sentindo coagido”.

Eu entendo, mesmo. Não me senti “coagido”, porque é uma palavra forte e não era o caso. Mas já cansei de estar em aulas, palestras, reuniões e afins que não tinham o menor sentido, onde acho que meu tempo poderia ser melhor aproveitado. Era o caso do curso? Era. Aposto que metade da sala faria esse curso online, se tivesse essa opção. Eu seria um desses. Mas existe uma questão de propósito. Se o batizado é na igreja católica, você precisa fazer esse curso de padrinhos. É a regra. Estamos ali para cumprir uma formalidade por causa do local do batismo. Ser padrinho ou madrinha vai muito além das obrigações religiosas.

Talvez essa seria uma boa resposta para a “coação”. Ao invés de falar que aquele era o momento para reunir todo mundo e falar sobre Deus, o voluntário poderia dizer que era o momento para conversar sobre este propósito e desafio comum, que é exercer os papéis de padrinho e madrinha no geral. Achar algo além da religião para criar empatia com quem está lá.

Para mim, a lição que ficou desse episódio é que os desafios de engajamento são os mesmos, seja uma sala de aula, um curso de batismo ou um ambiente de treinamento online. Criar empatia, espaços para a troca de ideias e conectar os propósitos não são tarefas fáceis e devem estar sempre nos nossos radares.

Post originalmente aqui: http://www.felipemenhem.com.br/2017/01/27/sobre-um-curso-de-batismo-narrativas-e-espaco-de-discussao/

Quatro dicas de comunicação para educação digital nas empresas

Tem sido cada vez mais comum encontrar artigos, vídeos, posts etc que falam sobre os padrões de comunicação entre plataforma e cursos online. Se você já trabalha com educação corporativa online, certamente está familiarizado com termos como Scorm, TinCan, AICC etc.

De fato, esses padrões são importantes para que um curso, ou qualquer outro tipo de mídia que você esteja usando no seu projeto funcionem corretamente e guardem aqueles parâmetros que foram escolhidos para garantir a interatividade e, futuramente, as métricas do projeto.

No entanto, o que se percebe é que muitas vezes essa ponte entre plataforma e curso é planejada exclusivamente no nível de tecnologia. E mesmo em projetos muito bem planejados para um determinado público alvo, detalhes simples acabam não sendo executados pela equipe de planejamento instrucional, o que prejudica a preparação do aluno para o aprendizado e, em seguida, o seu envolvimento com o curso e o seu engajamento.

Estou falando de detalhes pequenos mesmo, como se preocupar em escrever uma ementa (ainda na plataforma) que será bem compreendida pelo aluno, criar tanto na plataforma quanto na entrada do curso links que ajudem o aluno a compreender o que ele deve fazer, o quanto ele deve se dedicar e o que vai mudar na vida dele depois do curso.

Aqui vão algumas dicas bem simples (mas nem sempre lembradas):

  1. Use a comunicação para confortar o aluno. Por exemplo: se você identificou na análise do público alvo que um problema para esse aluno é tempo, diga, antes de mais nada, quanto tempo ele vai precisar para passar por cada módulo.
  2. Use a comunicação para otimizar o esforço do aluno. Por exemplo: se você estratificou o conteúdo por relevância, mostre para o aluno como ele pode identificar o caminho mais curto para o objetivo dele dentro do curso.
  3. Use a comunicação para preparar o aluno para a aprendizagem. Por exemplo: escreva uma ementa de verdade, não apenas técnica para preencher os campos da plataforma. Fará diferença para o aluno entrar num curso sabendo exatamente o que se espera dele e o que ele pode esperar como resultado.
  4. Use a comunicação para entender o que está acontecendo no seu projeto. Por exemplo: crie uma avaliação de reação específica para o seu curso, com perguntas que vão trazer inputs importantes para o desenvolvimento dos projetos de educação e, mais importante, leia a avaliação. Evite avaliações de reação padronizadas.

Mesmo parecendo simples e óbvios, é muito importante não tirar esses detalhes do radar, pois a tendência de muitos projetos é evoluir rapidamente no campo da tecnologia e se afastar cada vez mais do ser humano que é o aluno. Perder essa proximidade é como entrar numa sala de aula e ninguém lhe dar um simples “bom dia” e nem sequer se apresentar. Certamente você teria mais dificuldade e menos vontade de se engajar nesse contexto.

Sobre o fetiche da inteligência

Há algum tempo, a newsletter do Quartz veio com esse link do The Atlantic. A chamada, em uma tradução literal, seria algo como: Meritocracias são lugares horríveis para ser menos do que inteligente. A inteligência não deve ditar o valor de um indivíduo.

Antes de ler a matéria, fui na onda do título, “A guerra contra as pessoas estúpidas”, e já achei incrível, tipo “sim, estamos lutando contra as pessoas estúpidas, elas estão por aí o tempo todo nos atrapalhando”. Mas é exatamente o contrário. É sobre como o mercado de trabalho e a economia estão sendo cruéis com as pessoas “não-inteligentes”. Como o próprio texto afirma, “cada vez mais, a sociedade americana confunde inteligência com valor humano”. Basicamente, o texto aborda a forma como a sociedade americana (e vou estender a discussão para a nossa) é fetichista em relação à inteligência e conquistas acadêmicas. Há um desejo por pessoas com QI alto, altas notas no SAT (o “ENEM dos Estados Unidos”) e, por consequência, “espertas” para absolutamente qualquer função, até mesmo aquelas que não ficaram mais complicadas ao longo dos anos. O texto é longo, de certa forma complexo e traz alguns questionamentos interessantes.

Primeiro, dados os diferentes tipos de inteligência, seja espacial, cinestésica, interpessoal e afins, como você consegue formar pessoas no tipo desejado pelo mercado de trabalho? Depois, como acomodar todo mundo em um cenário onde a automação e os apps estão acabando com os empregos. Saiba que seu emprego está em risco se você dirige veículos para transportar cargas ou é o meio para outras pessoas fazerem compras, reservarem mesas. Só nos Estados Unidos, 15 milhões de vagas irão sumir.

Investimento em treinamento e desenvolvimento das pessoas dentro das empresas seria um caminho, assim como o apoio à educação profissional, que garante qualificação e opção de carreira. (Já falei extensivamente sobre isso nesses posts: Tem talento, mas tem muito trabalho também, 1822 e a educação profissional e Sobre a WorldSkills).

Porém, uma das maneiras mais eficientes de resolver esse problema seria garantir acesso e oportunidade de desenvolvimento para todos, desde a infância. Esta é uma causa nobre, cheia de boas intenções e que, em tese, resolveria parte da dissonância. Mas, antes de entrar na parte acadêmica, passa por dois pontos fundamentais: redução da pobreza e desigualdade social e programas estruturados de educação na primeira infância.

A educação na primeira infância, se feita do jeito certo – e para as crianças pobres quase nunca é – pode, em grande parte, superar quaisquer déficits emocionais e cognitivos que a pobreza e outras circunstâncias impõem nos primeiros anos de vida.

Infelizmente, se estes dois desafios são complicadíssimos de se resolver nos Estados Unidos, o que dizer no Brasil? O teto dos gastos públicos, que congelam investimentos na educação e na saúde por 20 anos e os cortes em programas sociais significarão duas coisas: o aumento da desigualdade social e a piora da educação pública. E aí, um adendo. No domingo assisti ao documentário “O Começo da Vida”, que eu recomendo fortemente, inclusive. Interessante para discutir o papel dos pais e mães nas inúmeras tarefas que envolvem a criação de um bebê. E discute-se a autonomia da criança, o seu acesso à educação, diferentes pontos de vista sobre o seu desenvolvimento. Em determinado momento, percebe-se como a desigualdade social e a pobreza são cruéis com as crianças. Como você garante a educação “do jeito certo” na primeira infância em uma família que não tem acesso a saneamento básico? Ou, como no caso do documentário, como resolver o déficit de uma menina de 10, 12 anos e que cuida dos dois irmãos menores? Crianças em famílias pobres não tem tempo de brincar, não tem tempo de criar um mundo à sua volta. Se elas precisam ser altamente estimuladas entre zero e três anos de idade, é seguro dizer que as crianças pobres já largam com ampla desvantagem em relação às outras.

E enquanto não resolvermos esses problemas estruturais, continuaremos fazendo o de sempre. Na ilusão de que a meritocracia e as oportunidades iguais existem, pescamos as exceções dentro do mar do ensino público e/ou da população pobre e tratamos como o todo. Basta você se esforçar e superar suas dificuldades que tudo se resolve. Não é assim. Enquanto uma criança pobre se destaca, milhares perdem a sua chance, talvez simplesmente porque a chance nunca chegou de fato para elas. Quando cada dólar investido na educação na primeira infância traz sete dólares de retorno para toda a sociedade, talvez a briga contra as pessoas estúpidas tenha que ser, na verdade, a guerra contra a falta de oportunidades e contra a falta de condições básicas. Em médio prazo, essa guerra vai fazer as pessoas menos estúpidas, vai ajudar as universidades na formação correta dos seus alunos e vai ajudar o mercado de trabalho a achar as pessoas “inteligentes” que tanto querem.

Originalmente publicado aqui.